História Social dos Sertões
MINICURSOS
01- A barragem de Sobradinho e as memórias do regime militar no sertão da Bahia (1969-1976)
Osnar da Costa (Universidade de Pernambuco)
Tem por objetivo esta proposta, em abordar o contexto relacional da construção da Barragem de Sobradinho com a realidade política do Brasil durante o regime militar, facultando os pressupostos de Memória dos remanescentes da cidade de Casa Nova – BA, com vistas a elucidar o quadro político-social no sertão baiano. A metodologia a ser adotada será a expositiva com instrumentos lúdicos-visuais por utilização de imagens, vídeos, e também textos temáticos. O período compreendido como Regime Militar do Brasil (1964-1985), é o momento, que pelo recorte feito, (1969-1976), é construída a barragem de Sobradinho. Neste caso, quando se faz referência ao tema, se refere exatamente a presença do Estado no sertão baiano neste período. Há de se considerar nesta discussão, que ao ponto da construção da barragem, todo o território ao redor da represa estava definido como área de segurança nacional, como afirma os documentos da Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco) e consequentemente as memórias dos remanescentes. A Lei de Segurança Nacional, para Coimbra (2000), consistia na ideia de restringir todo tipo de manifestação contrária ao regime com perseguições, torturas e prisões. Segundo a mesma autora, esta lei sempre fora promulgada junto com a Lei de Imprensa e estas serviam como um meio de perseguição e até mesmo de intimidação. De todo material pesquisado, das fontes escritas aos discursos dos remanescentes casa-novenses, ocorre que o fator repressivo se dá apenas por alusões, o que não quer dizer que não se teve repressão, já que pelo fato da construção da barragem, sem consulta popular, isto se configura como um meio repressivo.
02- Educação patrimonial e possibilidades para o Ensino de História
Antônia Lucivânia da Silva (Universidade Regional do Cariri)
O presente minicurso visa realizar um debate em torno das discussões teóricas do campo do Ensino de História que estão voltadas para a educação patrimonial. A partir desta reflexão irá realizar a análise de um estudo de caso da experiência local do “Caldeirão da Santa Cruz do Deserto”, comunidade agrária que viveu na cidade do Crato e que tinha por base uma produção voltada principalmente para a manutenção de seus membros e a distribuição se dava de forma igualitária, sendo o excedente econômico comercializado para a obtenção de bens não produzidos pelos referidos moradores. Para além da experiência social, o evento será tratado também como acontecimento referencial de uma produção discursiva que ressignifica desde o próprio momento dos acontecimentos até os dias de hoje o que se pensa e o que se sente em relação a esta experiência. A diversidade de narrativas será apresentada também como recurso para o ensino de História e durante os debates com os participantes pretende-se articular esta produção discursiva local com questões de âmbito nacional, ou até mesmo internacional, como a chegada dos Salesianos na cidade de Juazeiro do Norte. Para o desenvolvimento do trabalho será inicialmente realizada uma revisão teórica sobre a discussão sobre Educação Patrimonial e Ensino de História, a apresentação dos principais acontecimentos ligados à história da comunidade do Caldeirão, uma revisão das produções discursivas sobre o problema e posteriormente apresentadas possibilidades didáticas para o Ensino de História.
03- Forma romanesca e matéria épica: cangaço e messianismo no sertão de José Lins do Rego
Elri Bandeira de Sousa (Universidade Federal de Campina Grande)
O presente minicurso tem por objetivo discutir as diferentes formas de tratamento a que se submeteu a matéria épica no romance moderno, com o advento da ordem burguesa e seus impactos para o fazer literário. A epopeia clássica evoca um mundo inacessível, acabado, que envolve o plano humano e o divino. A autoridade da voz narrativa salva esse mundo mítico e heróico do esquecimento, fazendo valer uma visão centrípeta, mesmo quando transfere o narrar ao protagonista. O herói, cumpridor do destino, encarna o ideal ético da aristocracia e o espírito da arete. Com o advento do mundo burguês, a matéria épica, em vez de lendária ou mítica, torna-se histórica e ficcional e, não raro, submete-se a várias perspectivas narrativas. Diferentemente do herói épico, o protagonista romanesco representa, via de regra, uma particularidade, um grupo, não uma nação ou uma totalidade sem contradições. Pedra Bonita e Cangaceiros, romances de José Lins do Rego que tratam do messianismo e do cangaço no sertão nordestino, podem ser lidos como materializações desse novo tratamento dado à matéria épica. Seus personagens são heróis, anti-heróis e narradores que oferecem pontos de vista diversos sobre os eventos vividos e relatados. São a expressão de contradições sociais que implicam conflito épico. Já o narrador oficial e onisciente usa de estratégias que dissimulam seu veredicto sobre esses conflitos. No entanto, tal conjunto de visões sugere a imagem de um sertão onde se cruzam coronelismo, messianismo e cangaço, um mundo inacabado, em um tempo inacabado, preso a um impasse ainda sem solução. Este trabalho fundamenta-se em Bakhtin (1998), Lukács (2000), Motta (2006), Castello (2001), Ramalho de Farias (2006), Genette (1995) e Frye (1957).
04- A história das elites sertanejas
Raimundo Alves de Araújo (Universidade Federal Fluminense e SEDUC)
Neste minicurso pretendo apresentar uma reflexão acerca da historiografia que toma o estudo das elites como parâmetro essencial para o entendimento das sociedades humanas ao longo do tempo. Enfocaremos preferencialmente o papel desempenhado pelas elites sertanejas na construção do modelo de Estado-nação e de "cidadania brasileira" aí configurados.
05- Os usos das fontes jornalísticas no estudo dos Sertões
Berna Caroline Vasconcelos Nogueira (Universidade Federal do Ceará)
Sem fontes não se faz história. Essa máxima instaurada desde o século XIX, nos guia na construção da narrativa histórica. Para tanto, o tratamento dessas fontes mudou muito desde o século retrasado, mais do que isso, estas se expandiram e o seu tratamento também. Assim como para outros estudos, o que versa sobre os Sertões tem suas especificidades, estas, muitas vezes ditadas pela origem ou forma de suas fontes, sendo preciso, além de um exame acurado das fontes – critério há muito já estabelecido – uma erudição em torno de quais são essas fontes, onde encontrá-las e finalmente saber estabelecer um vínculo entre esse material morto, prestes a tomar vida (a fonte) e o próprio passado. Com isso, pretende-se trabalhar a metodologia no uso de fontes jornalísticas voltadas para o estudo dos Sertões. Oferecendo uma oficina que se dispõe a trabalhar com jornais, trazendo exemplos de periódicos que circularam no Ceará no final do século XIX e início do século XX, como O Cearense, O Retirante, A Lucta, O Rebate e O Sol para então discutir os principais temas que se pretende abordar na oficina como seca; violência; eleições; pobreza; movimentos sociais; partidos políticos. Articulando a partir dos jornais elencados a diferença entre História da Imprensa e História através da Imprensa; quais os principais aspectos a serem observados nos jornais investigados; suas principais ferramentas de pesquisa na internet e exemplos de sites que guardam vasto conteúdo sobre os jornais no Brasil. A partir dessas informações, relacionar com uma bibliografia acerca dos sertões a ser trabalhada na oficina e que dialoga diretamente com o material dos jornais elencados. Tudo com o apoio do grupo Seca, Cultura e Movimentos Sociais do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará.