"O cabra violento, fanático, facinoroso, rebelde, anárquico na narrativa dos senhores de sítio era, na verdade, o camponês despossuído sobrevivendo em um ambiente desestruturado em meio à seca, epidemia de varíola e recrutamento obrigatório. O Cariri, que parecia um oásis no escrito de suas elites, não parecia tão verde sendo visto de baixo".
As lutas políticas e sociais na região do Cariri, no Primeiro Reinado, foram marcadas pela disputa pela terra, entremeadas por catástrofes como as epidemias de fome, seca, doenças. Os camponeses tiveram ativa participação nessas lutas, conforme explica o artigo das historiadoras Ana Sara Irffi e Ana Isabel Reis, intitulado "O Cariri visto de baixo: movimentos camponeses em tempo de seca, fome, epidemia, e recrutamento no Primeiro Reinado".
O processo de desqualificação social dos cabras e a luta de classes no início do século XIX, nos sertões cearenses são discutidos no artigo, onde são estudadas as ações e experiências da população camponesa do Cariri Cearense.
"Visto de baixo, o Cariri de terras verdes e férteis pela presença de canaviais e da Serra do Araripe, se tornou um ambiente árido na perspectiva dos camponeses. A seca dos anos de 1825, 1826 e 1827, seguida pela fome e pela epidemia de varíola, e o recrutamento para a guerra da Cisplatina, em 1828, atingiu em cheio as populações camponesas da região, cuja reação política foi expressa na adesão à Revolta do Pinto Madeira. Nesse processo, a reação dos camponeses foi usada pela elite senhorial para destacá-los como grupos perigosos, fanáticos, anárquicos".
As autoras são pesquisadoras do Núcleo de Estudos em História Social e Ambiente, grupo de pesquisa vinculado ao Laboratório de Pesquisas em História Social (LABORE), da Universidade Regional do Cariri - URCA . Para acessar o texto completo clique aqui.
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